Paulo Bento foi meu convidado no último "Domingo Desportivo" da época passada. Lembro-me perfeitamente de uma das perguntas em que mais insisti: se era fundamental um aumento da ambição do clube - leia-se um maior investimento em futebolistas de qualidade - para se esperar mais dele e da sua equipa na época seguinte, que é esta. Paulo Bento respondeu-me o mesmo que poderia ter respondido em qualquer dos quatro anos anteriores, qualquer coisa como "conheço a realidade do clube e acredito que é possível ter sucesso assim". Não tenho dúvidas de que esse entendimento foi o seu maior erro. E explica-se em três partes:
1 Paulo Bento aceitou limitar a sua própria ambição. Depois de três anos e meio num grande sem ter conseguido ser campeão, tinha de apostar tudo no título maior. O reverso da medalha ia ser naturalmente o cansaço dos adeptos, com a ideia instalada de que com ele não iriam lá. Ainda por cima, tinha de ter noção de que o Porto raramente falha e de que o Benfica não iria falhar sempre. O mais provável era sobrar para o Sporting;
2 Aceitando continuar nas mesmas circunstâncias, com um orçamento menor e um plantel mais fraco que o da concorrência, Paulo Bento sofreu ainda mais com a euforia pós-eleitoral, favorecida pelo estilo mais popular do novo presidente. A ambição só aumentou no discurso, o que aumentou a pressão sobre uma equipa que não tinha estofo para a aguentar. Era um utilitário numa pista de Fórmula 1;
3 A grande questão é que com os plantéis que tem tido, o Sporting não foi campeão nem será nunca. Podem colocar lá Mourinho, Jesus, Ferguson, Capello ou Wenger. Quando as alternativas no banco são Pedro Silva, Pereirinha, Adrien, Grimi, Caicedo, Angulo ou Saleiro, quando André Marques surge como titular e Rui Patrício ou Postiga são indiscutíveis, não há nada a fazer. Chega a ser cruel comparar isto com as equipas treinadas por Fernando Santos ou José Peseiro - já nem vou aos últimos plantéis campeões -, que tinham os imberbes Quaresma e Ronaldo mas sobretudo João Pinto, Sá Pinto, Hugo Viana, Pedro Barbosa, Nani e até Rochemback no tempo em que se mexia.
Sobram ainda duas questões de fundo. A primeira é a da política desportiva do Sporting e da sua atuação no mercado. Os últimos verdadeiramente grandes reforços contratados foram Liedson e Polga, há muitos anos. De então para cá, os sucessos intermitentes - um Izmailov ou Vukcevic - perdem aos pontos com um camião de inutilidades, em que se destacam Mota, Koke, Tiuí, Purovic, Celsinho, Pinilla ou Bueno. A segunda é a boa carreira do Benfica que agrava a crise do Sporting. O problema foi os sportinguistas não terem percebido mais cedo que era a crise benfiquista que lhes alimentava a quimera do segundo lugar, enquanto os campeonatos voavam para Norte e o Porto se transformava, histórica e indiscutivelmente, no segundo clube português em títulos e adeptos.